domingo, 18 de novembro de 2012

As marcas


Sol se despedindo em minha janela

As marcas

(Marise Jalowitzki) 

Vendo esta xícara
E o chá
E o passarinho sentado
Não pude deixar de lembrar.
Foi numa tarde, dessas, de primavera.

Outro dia (coisa linda!)
 Mamãe bem-te-vi ensinando seu filhote a voar...
Cheguei sem ser percebida e fiquei olhando
Embevecida
Enternecida.

Entre as calhas azuis de meu terraço
Ela de um lado, chamando
Ele, do outro, tremendo
Ela, piando
Ele, gemendo.
De repente, záz!
Se foi!
Voou para até mais longe
Perdi-os de vista!

Subi para recolher as roupas
Já secas pelo sol!
O que encontrei?
Por sobre as peças
Três caquinhas, caídas durante o voo!
Restou-me lavar de novo
Serviu para pensar:
Também as aves tem medo
Quando não sabem voar.
Também as aves se assustam
Pelo que vão encontrar
Mas, mesmo assim, elas voam!
Deixam sua marca
Arriscam
Depois, vem o costume

E tudo fica mais fácil!
(ou, pelo menos, menos carregado de expectativa e necessidade de acertol)


sexta-feira, 2 de novembro de 2012

A Lebre e a Tartaruga - The Seekers - I'll never find another you (1968)



A lebre e a tartaruga

(Marise Jalowitzki)

Como sempre
Andava a lebre voando
Nada vendo
Nada sentindo
Apenas correndo
Correndo!
Olhava só para frente
Mirando sempre o futuro!
Assim, escalava muros
Saltava pontes
Não tinha medo do escuro
Esbaforida, fremente!

Lá atrás, lá longe
Andando um passinho lento
Sentindo o alento do vento
Vinha de novo
Como sempre
A tartaruga.
Cantava ela:
“Deus ajuda
Deus ajuda
Quem madruga!”
E era quase meia noite!
A luz da lua crescente
Crescia a cada momento
Esvaziando o negrume
Deixando solto o queixume
Dando vazão à canção

Numa curva qualquer
Num viés
Encontraram-se as duas
A lebre, terceira volta
A tortuga, na primeira.
Olharam-se
E um riso largo soou!
Quanta besteira!
Quanta ilusão passageira!
Quanto sonho mal sonhado!
Quanta investida perdida!
Quanta ação realizada!
Quanta vitória obtida!
Quanta alegria sentida!
Quanta poeira nos pés!

As duas se sacudiram
E decidiram parar.
Era hora de um descanso
Precisavam de um balanço
De diversão e lazer!
Dum tronco fizeram gangorra
Sentaram-se em cada lado
E as duas se divertiram
Só prazer!
Nenhuma diferença!
Nenhuma desconfiança!

Assim se resume a vida:
Os passos
Os sonhos
Os planos
 As horas
Ora lebre, ora tortuga!

Neste dia resolvo tudo

E apenas brinco de novo!


quinta-feira, 1 de novembro de 2012

SWEET MARIE


Sweet Marie - Campos Azuis - Marise Jalowitzki

 SWEET MARIE

(Marise Jalowitzki)

Sussurravas Sweet Marie
Em nosso leito de flores azuis
As estrelas dançavam sua canção estrangeira
Voávamos docemente entre os sóis
E as luzes, ah! As luzes
Corriam em sopros de gostos estranhos
Tudo tão organizado!

Quanto sonho!
Ideais jovens tão antigos!
Casa de quimeras, sempre habitada
Nunca abandonada

Folhas despencam ainda hoje
Nos outonos invernais que assolam e recolhem
Ainda tenho as cobertas de flores azuis
Doces, leves, carinhosas
Que queimam desilusões
E aquecem ossos e pele.

Sem dores, nem saudades do que nunca houve
A alma delira em realidades surrealistas
Fiel ao cerne do desejo

Quanto mais vejo do que desconheço, menos quero
Quanto menos vejo, mais sei o que quero

Não posso voltar para minha casa
Pois sempre estive nela.
Da janela do passado olho o futuro
Sabendo que os bouganville continuam florindo
Enredando-se cada vez mais nos telhados, nas janelas, nas paredes
Florescendo, florescendo
Fazendo da cor das copas coloridas
Uma escada curva, onde, sem esforço ou cansaço
Deslizo ascendentemente
Até o chão plano que se chama horizonte.

Ponte dos planos, ponte dos amores
Eu os tenho todos os dias
E abraço-os a instantes
São-me caros, raros

Sei sair.
Quero muito
Consigo desprender-me

Sem entender nada do tudo que sei
Continuo com as mãos plenas de flores azuis
Ou serão rosa?
Talvez maravilha!
Ilha violeta
Alma entendimento
Sentimento de amor
E aceitação.

Obviamente acredito
Deixo o dito pelo dito
Bendito instante de realização.




Marise Jalowitzki

PLANETA ÁGUA - GUILHERME ARANTES

À NOSSA INFÂNCIA - Queen - We are the champions, live



À NOSSA INFÂNCIA

(Marise Jalowitzki)
04 de Novembro de 2003

Brindemos!
Longínquos domingos nos separam
E o slide aparece nítido e real
Ato 1
-   Paulo, por que tu não come?
-          Já comi! O Padre me disse: Senta aqui nesta mesa e come!
-          Mas tu não disse que tinha vindo buscar os restos p'ro cachorro?
-          Disse. Mas, assim mesmo, ele disse p'ra eu sentar e comer!
-          Tu fez cara de fome!
-          Não, Mãe, não fiz, não!
-          Eu não quero que filho meu faça cara de fome! Tem de manter a dignidade!
-          Eu mantive, Mãe!
-          Está bem! - diz a Mãe, brava. - Vocês, podem comer. Está servido.

Ato 2
-          Paulo, por que tu 'tá comendo?
-          O Padre me disse: Senta aqui e espera!
-          Mas tu não disse que tinha vindo buscar os restos p'ro cachorro?
-          Disse.
-          Que era só juntar e trazer?
-          Disse.
-          Que tu tinha pressa.
-          Disse, Mãe!
-          E por que ele te fez esperar?
-          Não sei!
-          Crianças, hoje está mais sujo. Deixa eu limpar primeiro.

E a Mãe separava lenços de papel amassado
Dos pedaços de costela com carne de boi
Alguns cortados à faca
Outros mordidos
E a Mãe, cuidadosamente, separava
As partes de salada de batata com maionese limpas
Das partes de salada de batata com maionese sujas
Lenços de papel amassado
Palitos de madeira, alguns quebrados
Outros, não.
Ai... que horror... tinha vindo junto toco de cigarro com cinza!
-          Paulo, tu não viu isso?
-          Foi o Padre quem separou, Mãe!
-          Tu disse que era p'ro cachorro?
-          Disse.
-          Crianças, limpei como pude, come quem quer.
Todos comiam
Fartando a fome
E arquivando lembranças.


Gracias, Mano, pelo que fizeste por nós!


PRIMA, PRIMAVERA




Primavera - Marise Jalowitzki


Prima, Primavera!

(Marise Jalowitzki)

Ventos de granizo correm céleres entre as gotas de chuva fria
Caldo quente de susto e lentidão
O dia todo, a noite toda, o mesmo barulhão!
A escuridão dedilha fantasmas que bailam em meio à tempestade
Prima, Primavera, é tua a estação!

As flores majestosas, todas despencaram
É o ciclone, é o ciclone!
De que adianta o temor?
Será que o teto aguenta?
Folhas, galhos, terra e ventania.
O mundo fica mudo
Assistindo a algazarra
Farra natural!
Surreal!
Real
Irreal
Nem Bem, nem Mal
Só o vendaval arrastando tudo!

Faço um chá de folhas de maracujá e erva cidreira
Taça linda, chá sem açúcar
Sento à beira da porta e me deixo molhar.
Quente do chá, frio da chuva
Desafio minhas forças
Mas saio correndo quando o corisco corta o negro
E o estrondo é ainda mais ensurdecedor!
Não há mais coragem, nem dor, nem cor nas faces
Só palpitação, acelerada rotação!

Ah! Coração!
Riso
O que é preciso pra voltar a sorrir?
O jardim que insisto em construir
Com um vendaval desses, vira puro galho desnudado
Gritando por cuidado.
Eu cuido.

Dobro as lembranças em friso demarcado
Guardo o passado no lugar que lhe cabe
Sorvo o chá com Gratidão
Nova Era!
Prima, Primavera!


Marise Jalowitzki
















Halloween




HALLOWEEN

Marise Jalowitzki

Crianças sobem as escadas com seus rostos mascarados
Desfigurados
Crianças se assustam vendo a projeção de sua máscara
No outro
Máscaras horríveis
Facas atravessadas
Sangue-batom-pasta-de-tomate escorrendo
Importaram o Halloween!
Adultos fantasiam os pequenos
E não mais se assustam
Nas projeções de si
No outro.

A noite é fria e anuncia chuva.

Chegamos ao lar
E na entrada do edifício
Um rapaz-sem-cara-de-droga
Está em pé
Comendo com as mãos um pedaço de carne.
Não nos olha
Compenetrado em saciar sua fome
Cumpliciado pela noite
Escuridão que mais lhe pertence do que a nós.

Linguagem forte.

Abaixa-se e, com a mão,
Pega um punhado de arroz cozido que traz em lata que fora de tinta.
Come bastante
Forra-se
Para, depois, levar o resto à casa
Onde, por certo, outros tantos estão à espera.

Vamos embora enquanto ele continua comendo
Levando nossa impotência
Teria sido melhor ter lhe oferecido algum dinheiro?
Estava tão solenemente compenetrado em seu jantar
Pareceu mais respeitoso permitir nosso silêncio
Nossa não-intromissão.
Terá sido melhor assim?
Creio que sim!
Ele parecia tão absorto!

O céu riscando raios, coriscos
A noite foi, a noite toda,
Chuvas e trovoadas
Talvez para lembrar aos que dormem
Que é preciso afastar do mundo
A verdadeira bruxa
Cujo nome é Fome.



Marise Jalowitzki


















Eagles - Hotel California









terça-feira, 1 de maio de 2012

Barro Vermelho






BARRO VERMELHO

(Marise Jalowitzki)

Este estágio tem cheiro de terra vermelha
Seca,
Pó vermelho entrando
Se encravando nas linhas dos pés,
Dos dedos,
Das unhas,
Enquanto os passos continuam para a frente,
Andando,
Levando um corpo erguido
Reflexivo
Dócil
Aprendiz
Sabedor (?)
Do que são os ciclos
Do que contém a caminhada.

Os silêncios compactuados com o si mesmo
Já não possuem a oportunidade de se tornarem voz.
Fazem parte do pó desta estrada longa,
Compõem o caminho
São o próprio chão
O alicerce.

O porquê do silêncio
O porquê do pacto
Nem a alma pode responder.
Foi uma opção
Se fez por si só
E constitui história.

Sabedoria ou medo
Já nem cabe definir.

Cai uma abundante chuva
chuva abundante cai... cai... cai...
nenhum choro
nenhum riso
nenhum ai
só visão
transforma todo o pó em barro
barro vermelho
espelho
o arco-íris se retrata
os passos levam a novos ares
Conhecidos
Nunca vistos
Novos ares.
Um andar mais leve
Mais consciente
Diminui.
O corpo, num vacilo,
se senta à beira da estrada
Os pés se aconchegam no desvão,
Se enrodilham.

Chega de turbilhão
É hora de um cochilo.



Marise Jalowitzki

















Nothing Else Matters
So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters

Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters

Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters

Never cared for what they do
Never cared for what they know
But I know

Never opened myself this way
Life is ours, we live it our way
All these words I don't just say
And nothing else matters

Trust I seek and I find in you
Every day for us something new
Open mind for a different view
And nothing else matters

Never cared for what they say
Never cared for games they play
I never cared for what they do
I never cared for what they know
And I know

So close no matter how far
Couldn't be much more from the heart
Forever trusting who we are
And nothing else matters


Nada mais importa
Tão perto, não importa quão longe
Não poderia ser muito mais vindo do coração,
Sempre confiando em quem nós somos
E nada mais importa

Nunca me abri desse jeito,
As vidas são nossas, nós vivemos do nosso jeito,
Todas essas palavras eu não apenas digo
E nada mais importa

Confiança eu procuro e acho em você
Todos os dias para nós algo novo
Mente aberta para uma visão diferente
E nada mais importa

Nunca me importei pelo o que eles fazem
Nunca me importei pelo o que eles sabem
Mas eu sei

Tão perto, não importa quão longe
Não poderia ser muito mas vindo do coração,
Sempre confiando em quem nós somos
E nada mais importa

Nunca me importei pelo o que eles fazem
Nunca me importei pelo o que eles sabem
Mas eu sei

Nunca me abri desse jeito,
As vidas são nossas, nós vivemos do nosso jeito,
Todas essas palavras eu não apenas digo
E nada mais importa

Confiança eu procuro e acho em você
Todos os dias para nós algo novo
Mente aberta para uma nova visão
E nada mais importa

Nunca me importei pelo o que eles dizem
Nunca me importei pelos jogos que eles jogam
Eu nunca me importei pelo o que eles fazem
Eu nunca me importei pelo o que eles sabem
E eu sei...!Yeah!!!

Tão perto, não importa quão longe
Não poderia ser muito mais vindo do coração,
Sempre confiando em quem nós somos
E nada mais importa

POR LEVÍ BELLINI


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Gota

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