Ramo de benção
(Marise Jalowitzki)
Bob canta e arrasta sua voz metal
A gaita na boca ensaliva o som que atordoa
E conduz.
Impossível dizer que foste selvagem.
Que nasceste selvagem.
Eu vi tua meninice.
Senti teus passos em direção ao adulto.
Eras sonhador.
Te encantavas com La-lady-la.
A parte bicho veio depois
Tão forte que te assustou e te fez correr para o pai-de-santo.
“Vou ser um pai-de-santo”, disseste
E ninguém mais iria te mandar.
Quem mandou foi a tua vontade.
Aquela, que não se conduz quando não se pensa.
O corpo do velho homem estava arranhado, ensanguentado
E ele gemia.
Estava feito.
Pegaste teu susto nas costas
E, meio atônito, meio orgulhoso
Continuaste tua caminhada.
Alguns meses depois o velho homem se foi.
Ninguém mais o visitou no endereço fixo.
Algumas flores murchas, de vez em quando,
Ainda apareciam na sombra.
Depois, nem isso.
Eu ainda preservo o espaço dos ossos
- agora já fininhos, pois estão velhos e empoeirados.
Triste ritual de culto aos ossos!
Neste final de tarde rezo por todos.
Pelas mazelas humanas.
Pelo de inferior que somos.
Pelos nossos erros, feitos na vontade de acertar.
Tomo o ramo-bento e abençoo primeiro a mim.
Depois, a ele, a ti, a todos.
Por todos.
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