À
NOSSA INFÂNCIA
(Marise Jalowitzki)
04 de Novembro de 2003
Brindemos!
Longínquos domingos nos separam
E o slide aparece nítido e real
Ato 1
-
Paulo, por que tu não come?
-
Já comi! O Padre me disse: Senta aqui nesta mesa e come!
-
Mas tu não disse que tinha vindo buscar os restos p'ro cachorro?
-
Disse. Mas, assim mesmo, ele disse p'ra eu sentar e comer!
-
Tu fez cara de fome!
-
Não, Mãe, não fiz, não!
-
Eu não quero que filho meu faça cara de fome! Tem de manter a
dignidade!
-
Eu mantive, Mãe!
-
Está bem! - diz a Mãe, brava. - Vocês, podem comer. Está
servido.
Ato 2
-
Paulo, por que tu 'tá comendo?
-
O Padre me disse: Senta aqui e espera!
-
Mas tu não disse que tinha vindo buscar os restos p'ro cachorro?
-
Disse.
-
Que era só juntar e trazer?
-
Disse.
-
Que tu tinha pressa.
-
Disse, Mãe!
-
E por que ele te fez esperar?
-
Não sei!
-
Crianças, hoje está mais sujo. Deixa eu limpar primeiro.
E a Mãe separava lenços de papel
amassado
Dos pedaços de costela com carne de
boi
Alguns cortados à faca
Outros mordidos
E a Mãe, cuidadosamente, separava
As partes de salada de batata com
maionese limpas
Das partes de salada de batata com
maionese sujas
Lenços de papel amassado
Palitos de madeira, alguns quebrados
Outros, não.
Ai... que horror... tinha vindo
junto toco de cigarro com cinza!
-
Paulo, tu não viu isso?
-
Foi o Padre quem separou, Mãe!
-
Tu disse que era p'ro cachorro?
-
Disse.
-
Crianças, limpei como pude, come quem quer.
Todos comiam
Fartando a fome
E arquivando lembranças.
Gracias, Mano, pelo que fizeste por
nós!
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