quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Halloween




HALLOWEEN

Marise Jalowitzki

Crianças sobem as escadas com seus rostos mascarados
Desfigurados
Crianças se assustam vendo a projeção de sua máscara
No outro
Máscaras horríveis
Facas atravessadas
Sangue-batom-pasta-de-tomate escorrendo
Importaram o Halloween!
Adultos fantasiam os pequenos
E não mais se assustam
Nas projeções de si
No outro.

A noite é fria e anuncia chuva.

Chegamos ao lar
E na entrada do edifício
Um rapaz-sem-cara-de-droga
Está em pé
Comendo com as mãos um pedaço de carne.
Não nos olha
Compenetrado em saciar sua fome
Cumpliciado pela noite
Escuridão que mais lhe pertence do que a nós.

Linguagem forte.

Abaixa-se e, com a mão,
Pega um punhado de arroz cozido que traz em lata que fora de tinta.
Come bastante
Forra-se
Para, depois, levar o resto à casa
Onde, por certo, outros tantos estão à espera.

Vamos embora enquanto ele continua comendo
Levando nossa impotência
Teria sido melhor ter lhe oferecido algum dinheiro?
Estava tão solenemente compenetrado em seu jantar
Pareceu mais respeitoso permitir nosso silêncio
Nossa não-intromissão.
Terá sido melhor assim?
Creio que sim!
Ele parecia tão absorto!

O céu riscando raios, coriscos
A noite foi, a noite toda,
Chuvas e trovoadas
Talvez para lembrar aos que dormem
Que é preciso afastar do mundo
A verdadeira bruxa
Cujo nome é Fome.



Marise Jalowitzki


















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Gota

Link original:  https://marisejalowitzki.blogspot.com/2019/10/gota.html